domingo, 7 de agosto de 2011

Vocação: Santa Madre Teresa de Jesus


"Essa minha amiga me contou que decidira ser monja apenas por ter lido as palavras do Evangelho: ‘muitos são chamados e poucos escolhidos’. Ela me falava da recompensa dada pelo Senhor a quem deixa tudo por Ele.

Essa boa companhia foi dissipando os hábitos que a má companhia tinha criado, elevando o meu pensamento no desejo das coisas eternas e reduzindo um pouco a imensa aversão que sentia por ser monja. Eu tinha muita inveja quando via alguma monja chorar ao rezar ou praticar outras virtudes. Nesse período, meu coração era tão duro que a leitura de toda Paixão de Cristo não arrancaria de mim uma lágrima, o que me deixava muito pesarosa.

Fiquei nesse mosteiro um ano e meio, tendo melhorado muito. Comecei a fazer muitas orações vocais e a pedir a todos que me encomendassem a Deus, para que Ele me indicasse o caminho em que melhor o servisse. Eu queria, no entanto, que minha vocação não fosse de monja, que Deus não me desse esse desejo, muito embora temesse o casamento.

Na época em que eu estava preocupada com essas decisões vocacionais,convenci um dos meus irmãos a se tornar frade, persuadindo-o da vaidade do mundo. E resolvemos ir juntos um dia, bem de manhã, ao mosteiro onde estava aquela minha amiga, esse era o mosteiro que mais me agradava.

Naquele momento, eu estava de tal modo decidida a ser monja que teria ido a qualquer mosteiro onde pudesse servir mais a Deus, ou que agradasse a meu pai. Eu estava voltada para curar a minha alma e dedicava o maior descanso à minha comodidade. Lembro-me bem e creio que com razão, que o me sofrimento ao deixar a casa paterna, não foi menor que a dor da morte.

Eu tinha a impressão de que os meus ossos se afastavam de mim e que o amor de Deus não era maior que ao amor a meu pai e a minha família. Sendo necessário fazer tamanho esforço que o Senhor não me tivesse ajudado as minhas considerações não teriam bastado para que eu prosseguisse. No momento certo, o Senhor me deu ânimo na luta contra mim mesmo e, assim, levei adiante o meu propósito.

Quando tomei o hábito, o Senhor logo me fez compreender como favorece os que se esforçam por servi-Lo. Ninguém percebeu o meu esforço, mas só a minha imensa vontade. Ao fazê-lo, tive tal alegria de ter abraçado aquele estado que até hoje permaneço nessa vocação.

Deus transformou a aridez que tinha minha alma em magnífica ternura. As observâncias da vida religiosa eram um deleite para mim; na verdade, nas vezes em que varria, em horários que antes dedicava a divertimentos e vaidades, me vinha uma estranha felicidade não sei de onde, diante da lembrança de estar livre de tudo aquilo" (Santa Teresa de Jesus, Livro da Vida, capítulos 3 e 4).

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